Por cá andamos sem largarmos as melodias compostas pelos seres humanos. Enquanto a música ao vivo permanece adormecida, há que continuar a ouvi-la para nos mantermos acordados. Música para noites longas, amanheceres repentinos e tardes intermináveis. Há de tudo para todos os gostos. É só escolher bem a melhor hora do dia para a escutar. São mais 10 escolhas musicais para 10 dias mais. Sejam meus convidados!
ALABASTER dePLUME (Reino Unido)
A música alegre, inteligente, irónica e aventureira, sempre me deixou rendido. Tiro o chapéu àqueles que conseguem atingir esta mistura de qualidades. Não é fácil encontrar quem a faz, mas há uns anos encontrei um senhor que a desenvolve de forma sublime. Alabaster DePlume, poeta e saxofonista inglês, acaba de editar disco “To Cy & Lee” composto apenas com instrumentais recheados de mel. Ouçam-no e a todos os outros seus trabalhos porque a vossa vida só tenderá a melhorar. Garanto-vos!
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A GAROTA NÃO (Portugal)
Benditas composições haviam de brotar antes do colapsar do mundo. Cátia Mazari Oliveira apresenta-se como A Garota Não, num disco apelidado “Rua das Marimbas nº7”. Voz e canções que nos fazem meditar sobre o nosso mundo, que é tanto nosso como de Cátia. Andamos cada um no seu barco (outros a tentar ainda o construir), à procura de desaguar no oceano para a libertação final, enquanto Cátia já o fez: desceu o Sado e mergulhou no Atlântico de forma soberba. Que belas canções, tão bom. Esta Garota Sim!
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BRYCE DESSNER (Estados Unidos)
Tudo se disse já sobre uma das mentes dos The National, mas o seu trabalho como compositor é muito mais vasto. O disco “El Chan”, escrito para duo de piano – neste caso as irmãs Katia e Marielle Labèque – oferece-nos peças minimais de piano e concertos para piano com orquestra. Um álbum sublime que nos revela um outro lado do guitarrista americano.
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MAYA KAMATY (Ilha da Reunião)
Maya Kamaty é uma das mais recentes vozes da nova geração da forma tradicional musical da Ilha da Reunião, o maloya. A seguir as pisadas de artistas como Danyèl Waro ou Alain Péters, Maya redescobriu a importância das suas raízes criolas aquando da sua estadia em França como estudante. O mais recente disco “Santié Papang”, revela-nos isso.
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SOFIA VIOLA (Argentina)
Sofia Viola é uma artista por quem nos apaixonamos facilmente. Acompanhada da sua guitarra e do seu charango, a artista argentina que viveu grande parte da sua vida de uma forma nómada, levou sempre consigo a riqueza de artistas como Chavela Vargas, Violeta Parra, Celia Cruz ou Chet Baker. “La Huella en el Cemento” é o seu mais recente trabalho de originais, editado em 2018. Deixem-se levar com a Sofia…
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WASSIM HALAL (França/Líbano)
“Le Cri du Cyclope”, é um álbum bizarro e difícil. O seu mestre é Wassim Halal, um percussionista franco-libanês que quis desafiar o potencial da darbuka. Desde os seus tempos de criança que as suas férias de verão eram passadas no Líbano, onde ia absorvendo este instrumento, enquanto que o resto do ano era passado a decifrar aquilo que tinha aprendido. É um disco triplo, com muitas variações e momentos, por isso não se espantem de, chegado o disco ao fim, se encontrem enterrados no sofá. É um disco noturno, com o mesmo efeito da semente da erva africana do sonho (Entada Rheedii). É convosco.
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YASAMIN SHAHHOSSEINI (Irão)
Yasamin Shahhosseini é uma artista de oud, nascida em Teerão em 1992, que apesar de ter apenas um disco a solo “Gahan”, tem colaborado com inúmeros artistas tais como Maya Youssef, Nibs Van der Spuy ou Omid Shabani. Sentiu que o oud seria o seu instrumento após escutar um dos mestres deste instrumento: o iraquiano Naseer Shamma. Não parou mais desde então. Ainda bem.
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CAIXA DE PANDORA
Não só de discos do século passado se faz a história. A Caixa de Pandora almeja introduzir artistas e discos icónicos que nasceram em anos mais ou menos longínquos. Apresentamos três discos que nos fazem levitar só de ouvirmos os primeiros acordes. São organismos vivos, enjaulados em formato áudio, com a capacidade de acenderem o rastilho dos sonhos de um qualquer ciclope das Mil e Uma Noites.
HAMZA EL DIN “Al Oud: Instrumental and Vocal Music of Nubia”, 1965
Hamza el Din, o encantador das águas do Nilo, nasceu no Egito em 1929, mas rapidamente sentiu que essas terras carregavam uma riqueza que não podia ser esquecida: a Núbia. O território do império da Núbia, atualmente partilhado pelo Egito e pelo Sudão, foi percorrido por Hamza em cima de um burro, vila a vila, na procura de estórias e músicas daquele tempo. Entre muitas aventuras pela sua vida fora, viveu nos Estados Unidos, onde foi professor em universidades como as de Ohio, Washington e Texas, viveu também no Japão nos anos 80, e foi o responsável por levar os míticos Grateful Dead a atuar Nas Pirâmides de Gizé em 1978. As margens do Nilo continuarão a entoar a voz de Hamza el Din por muito tempo.
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BALLAKÉ SISSOKO & VINCENT SEGAL “Musique de Nuit”, 2015
As composições de “Musique de Nuit” são puros catalisadores da reflexão em noite de luar. Este é um daqueles discos que deveria ser prescrito pelas autoridades de saúde para diminuir os níveis de ansiedade geral das populações. Cada um deles detém um currículo imenso de colaborações com artistas como Cesária Évora, Elvis Costello, Sting, Rokia Traoré, Toumani Diabaté, entre muitos outros, mas é no entrelaçar musical destes dois artistas que reside um sabor especial. São dois rios que se encontram, e navegam juntos sem nunca pararem.
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GURDJIEFF & DE HARTMANN, ALAIN KREMSKI, 2001-2003
Embora os trabalhos compostos por Gurdjieff e De Hartmann tenham sido editados por volta do início dos anos 70, são as interpretações do pianista Alain Kremski que me introduziram ao mundo criado por uma das mais misteriosas personagens que o mundo conheceu: George Ivanovitch Gurdjieff. Esta obra está dividida em 12 volumes e cada uma delas é infinita na sua audição. A imagem é referente à primeira edição no início dos anos 80 por Kremski.
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Imagem de capa por Hundertwasser (On The Way To You, 1966)