Braga é uma cidade de grande tradição e riqueza na doçaria conventual. A variedade de doces, pastéis e bolos é interminável. Ao passearmos pelas ruas da cidade deparamo-nos com uma quantidade considerável de doçarias e pastelarias que, na maioria dos casos, preservam um receituário com mais de 7 ou 8 gerações de existência, sobrevivendo ao passar das modas e da extinção dos conventos de freiras na cidade.
Convida-mo-lo a deixar-se tentar e provar os doces mais emblemáticos da nossa cidade. E não se sinta culpado, nós não dizemos nada a ninguém!
Moletinhos
Típico de Braga e criado entre finais do séc. XIX e inícios do séc. XX, este doce é por tradição comido e celebrado no dia 22 de janeiro, nas festas de S. Vicente e no dia 19 de março, pelas festas de S. José de S. Lázaro e também para celebrar o Dia do Pai.
Os Moletinhos são muito semelhantes às almofadas (espécie de pãezinhos doces que normalmente se comem ao pequeno almoço, pincelados com ovo e polvilhados com açúcar) mas mais pequenos e com uma grande tradição associada, sendo o símbolo da Romaria dos Meninos. Por altura das romarias de S. Vicente e S. José de S. Lázaro é comum ver-se vários vendedores de Moletinhos junto às igrejas. Também vendidos em muitas das pastelarias da cidade, têm de se comer à mão, ou seja, não se cortam com faca, para evitar que a massa seque rapidamente.
Fidalguinhos
Os Fidalguinhos são um biscoito seco, com um travo a canela e limão, ideais para aquelas tardes de chuva em que ficamos por casa e decidimos tomar um chazinho. Com origem no receituário do Convento da Nossa Senhora dos Remédios, estes biscoitos têm uma forma curiosa. São finos e entrelaçados, representando assim as pernas dos antigos nobres hereditários, os fidalgos, que pouco ou nada tinham de fazer para que a vida lhes corresse bem.
Há várias pastelarias em Braga que produzem estes biscoitos. Avisamos desde já que estes biscoitos são viciantes e assim que experimentar dificilmente conseguirá parar!
Pudim Abade de Priscos
É, com certeza, o doce mais celebrado e reconhecido da doçaria conventual de Braga. Criado no séc. XIX por Manuel Joaquim Rebelo, que durante cerca de 50 anos foi o Abade de Priscos, este pudim é uma verdadeira iguaria dos Deuses.
Reza a história que o Abade de Priscos era bastante talentoso no que à culinária diz respeito, de paladar apurado, que aliado a um conhecimento vasto em temperos e especiarias, criava pratos de grande criatividade e sabor. De tal forma que por altura da visita do Rei D. Luís I ao norte de Portugal, no final do séc. XIX, o Abade foi convidado a cozinhar um banquete para a família real. Durante o banquete, o Abade de Priscos cortou um pouco de palha que serviu ao Rei; D. Luís I estupefacto com tal ato perguntou “Palha?! Como ousas servir palha ao teu Rei?”, ao que o Abade de Priscos respondeu “Perdoai-me, Senhor, mas toda a gente come palha, a questão é saber cozinhá-la”.
O grande segredo deste pudim e o que o torna o doce mais representativo da cidade, é a utilização de toucinho de porco na sua feitura. Ao cozinhar-se o pudim, além do açúcar, gemas de ovos, vinho do Porto e limão, usam-se cerca de cinquenta gramas de toucinho de porco gordo. Este ingrediente confere um sabor e textura únicos ao pudim, tornando-o numa iguaria digna de estrela Michelin.
Tíbias
Doce de origem conventual, as Tíbias fazem parte do imaginário da cidade e estão representadas em várias pastelarias. De massa leve e estaladiça, polvilhada com açúcar, este doce é recheado com um creme pasteleiro muito suave.
Chamada de Tíbia por ter uma forma que faz lembrar o osso com o mesmo nome, este bolo tornou-se um marco da doçaria conventual bracarense, tendo já conquistado os habitantes da cidade que consomem tíbias durante todo o ano.
Sameirinhos
Estes pequenos “barquinhos” de doce de ovos são de inspiração conventual, criados pelas freiras do Sameiro, tornaram-se uma especialidade da cidade de Braga.
Feitos de massa estaladiça, são moldados numa forma que faz lembrar uma barco ou barca que depois é recheada com doce de ovos e amêndoa, de lamber os dedos!
Viúvas
As Viúvas são um doce conventual retirado do receituário do Convento de Nossa Senhora dos Remédios. Criadas pelas freiras franciscanas do convento, as Viúvas estiveram desaparecidas do universo da doçaria conventual bracarense por muitos anos. Durante muito tempo, os monges do Mosteiro de Tibães encomendavam-nas às freiras por altura das celebrações de São Bento, que decorriam entre março e julho, tornando-os nos melhores clientes destes pequenos doces.
Com o passar das gerações, algumas das famílias mais antigas da cidade foram guardando as receitas, preservando desta forma o património gastronómico bracarense. Recentemente, as Viúvas foram reintroduzidas no universo da doçaria conventual bracarense por algumas pastelarias da especialidade, voltando a fazer as delícias dos bracarenses. De massa estaladiça e recheio de ovos, açúcar, amêndoa e canela, este pastel é de um requinte que conquista qualquer paladar.
Fotografias captadas na Doçaria S. Vicente e na Pastelaria Delice, em Braga.