“Se não fossem vocês, nós nunca entenderíamos o que representa este monumento” – foi assim que um turista reagiu à explicação que um guia da Minho Free Walking Tours deu sobre um dos monumentos mais intrigantes e fotografados da cidade de Braga – o Monumento aos Arcebispos de Braga. Este conjunto escultórico situa-se no Rossio da Sé e representa a homenagem que é feita pela cidade aos arcebispos pelo importante papel que desempenharam na História de Braga desde a fundação da nacionalidade até aos nossos dias.
O Rossio da Sé foi inaugurado em 2002, mas a vontade de homenagear desta forma os prelados bracarenses remonta, pelo menos, aos anos 40 do século XX. A história do actual monumento remonta a 1989 quando foi lançado um concurso público com esse propósito, do qual saiu vencedor o projecto da autoria do escultor José Pacheco e do arquitecto Ramalhete Barbosa. Curiosamente, este último acabaria por falecer sem ver concretizada a obra.
O monumento evocativo aos arcebispos é composto na ala Nascente por uma escultura em bronze interrompida pela intersecção de uma cruz arquiepiscopal de ferro com seis metros de altura e, na Parte Sul, ostenta os 17 brasões dos arciprestados que fazem parte da actual arquidiocese de Braga.
Grande parte das pessoas que passa no Rossio da Sé não olha com a devida atenção para este monumento. Os turistas querem saber mais sobre o emaranhado de figuras representadas no painel de bronze. Os guias dizem que o monumento deve ser interpretado observando-o da esquerda para a direita, porque a escultura segue a ordem cronológica que as figuras representam.
A primeira figura, à esquerda, ilustra o arcebispo D. Paio Mendes. Um verdadeiro guerreiro que defendeu firmemente a causa independentista de D. Afonso Henriques contra D. Teresa. Talvez se possa aqui justificar o exército que está patente na escultura e que se encontra abençoado por uma pomba, símbolo do Espirito Santo. O báculo e a espada junto à bandeira afonsina são símbolos da preponderância da igreja de Braga na emergência do reino de Portugal.
O primeiro rei de Portugal fez várias doações a D. Paio Mendes, em reconhecimento dos serviços que lhe ia prestando nos preparativos da fundação da nacionalidade. Com efeito, D. Paio Mendes e D. Afonso Henriques assinam a 27 de Maio de 1128, em Braga, um documento em que o Infante promete ao Arcebispo direitos sobre várias vilas e lugares e diversas isenções e importantes privilégios logo que obtiver o governo de Portugal. Talvez seja este documento que esteja reproduzido logo à direita. Na parte superior, está saliente um edifício com cinco capelas que sugerem a reconstrução que este arcebispo mandou executar na cabeceira da Sé.
A Torre de Menagem assume particular destaque como alegoria do castelo e muralha da cidade que, durante séculos, funcionou como estrutura de defesa da cidade. Logo ao lado, temos representado em pano de fundo a fachada da Sé Catedral e, em frente, substituindo a galilé, apresenta-se alegoricamente a Semana Santa de Braga. Não poderiam deixar de se destacar as figuras mais icónicas desta ancestral tradição religiosa da cidade: os farricocos com as matracas e os fogaréus.
Neste painel, o santuário do Bom Jesus aparece representado de forma sublime. O busto e os braços abertos do próprio Jesus substituem o frontão triangular da Basílica e os escadórios são alegoricamente representados pela configuração do pálio que abriga uma custódia! No centro está saliente o cálice, o mesmo que podemos contemplar, de forma espectacular, se observarmos o monumento de baixo para cima a partir de uma posição intermédia da escadaria.
Ao lado, a dividir a Fonte do Largo de S. Tiago e a Fonte dos Castelos, ergue-se a cruz arquiepiscopal. Talvez a figura do arcebispo à direita corresponda a D. Eurico Dias Nogueira, que se encontrava em funções, em 1995, quando o escultor assina esta interessante obra. No canto do painel, a encimar este enredo, temos a imagem alegórica de Braga.
Uma curiosidade desta execução é que apenas figuras com importância como Jesus ou os arcebispos são exibidas com saliência facial, todas as outras são anónimas e destituídas de relevo…
Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours