Dia das Mentiras, o Largo do Paço e Sean Riley & The Slowriders

Largo do Paço We Braga

As free walking tours não proporcionam só o encontro entre pessoas de diferentes culturas e tradições, mas também sobre tradições comuns. Exemplo disso é a referência ao dia 1 de abril, o Dia das Mentiras. Na tarde deste dia, em 2016, antes do início da visita, o guia da Minho Free Walking Tours esteve a conversar com um jovem casal de namorados alemão e uma turista russa sobre a origem deste dia e se o mesmo era assinalado nos respectivos países. Todos responderam afirmativamente, embora nenhum deles soubesse explicar a sua origem. De acordo com os jovens alemães, o Aprilschertz é um dia marcado por mentiras e enganos não só entre os habitantes, mas também na imprensa e internet. Na Rússia, este dia é apelidado de день дурака (denh duraká – dia dos tolos), onde se costuma enganar ou ridicularizar alguém.

A visita com estes jovens acarretou nova responsabilidade para o guia. Porque se viu “obrigado” a justificar quase tudo o que afirmava sob pena de ser desacreditado. Todavia a visita decorreu normalmente até à chegada ao Largo do Paço. Para estes turistas pouco religiosos foi difícil acreditar que um Palácio Episcopal se tivesse convertido num espaço nobre da moderníssima Universidade do Minho. Não haveria outra solução para o guia senão entrar e demonstrar tal transformação. Esta tarefa revelou-se fácil porque, logo à entrada, é possível ler-se no portal de vidro a referência à Universidade do Minho. Os visitantes mostraram-se encantados com os painéis azulejares provenientes do Mosteiro de Tibães e os que são atribuídos ao famoso arquitecto André Soares, que se podem admirar na recepção junto ao escadório de acesso ao salão nobre da Reitoria.

No salão adjacente estava patente uma exposição inserida na Semana Santa denominada “A Paixão de Cristo no Imaginário Bracarense”. O guia teve de explicar novamente que se tratava de uma exposição com temática religiosa, mas que era uma mostra especial, resultante de uma parceria entre a Universidade, a Câmara Municipal e a Comissão Organizadora da Semana Santa.

A maior surpresa desta visita adveio de uma feliz coincidência. Durante a visita à exposição, começaram a ouvir-se sonoridades familiares ao guia provindas do amplo Salão Medieval contíguo. Incrédulo, o guia informou que a música pertencia a uma conhecida banda portuguesa de música rock, os “Sean Riley & The Slowriders” que canta em inglês e da qual era um grande fã. Reparando que a porta estava aberta, dirigiu-se ao Salão Medieval e depara-se com a banda num momento de descontracção! Recua e diz aos turistas: “isto sim, isto parece mesmo mentira”!

Faz parte do roteiro das walking tours a entrada naquele fantástico salão. Nesse dia não foi excepção. Não houve qualquer impedimento, os músicos e os técnicos receberam o grupo de forma afável. Explicaram que se estavam a preparar para o concerto que iam realizar nessa noite naquele magnífico espaço. O guia confidenciou aos turistas que eram uns privilegiados porque pouca gente teria a sorte de conviver com esta banda originária de Coimbra e uma das melhores bandas de rock portuguesas.

O guia aproveitou depois para falar das características do salão e captou com isso uma nova e especial assistência. O salão possui imensas paredes de granito. Os arcos de estilo gótico que se encontram no exterior decorando o belo jardim privativo do palácio faziam parte da sua estrutura original. Foram transladados para o exterior nos anos 40 do século XX. Actualmente têm uma interessante função decorativa tornando-se, juntamente com o conjunto arquitectónico envolvente, um dos mais admiráveis postais turísticos da cidade. O tecto composto por traves de madeira pintadas com motivos fitomórficos, que imitam uma cobertura de alfarge típica do século XVI, ajuda a proporcionar as excelentes condições acústicas que o salão possui. Os formidáveis candelabros e a imagem da Virgem Maria sob baldaquino presente na parede testeira do palco conferem ao salão um marcante misticismo.

Informou ainda que já tinha passado muitas horas estudando naquele salão na altura em que aquele espaço funcionou como Biblioteca Pública de Braga até 2004. No final houve tempo para uma foto conjunta para a posteridade e a promessa, por parte dos turistas, de assistirem ao concerto nessa noite e seguir a carreira da banda. Escusado será dizer que esta visita guiada peculiar terminou ao som do tema This woman!

 


Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours

 

 

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