Este artigo, foi escrito no dia 25 de Abril de 2019 e foi inspirado numa experiência ocorrida há poucas semanas com um grupo de participantes espanhóis na Avenida da Liberdade.
Os diferentes lugares que integram o roteiro das Minho Free Walking Tours permitem abordar diferentes temas da história, não apenas exclusivamente de âmbito local, mas também de carácter nacional. Basta haver tempo e curiosidade por parte dos turistas para ouvirem e, muitas vezes, mostrarem vontade de conhecer mais pormenores sobre determinado assunto da nossa história.
No momento em que o grupo inicia a subida da avenida ziguezagueando pelo meio dos jardins que agora a ornamentam, os guias aproveitam sempre para narrar que o nome da Avenida advém da mudança de regime ocorrida em 1974 com a Revolução de 25 de Abril, que pôs fim a uma ditadura e inaugurou uma governação democrática e de liberdade em Portugal.
Os guias aproveitam para referir que se trata de uma das principais e mais extensas avenidas da cidade, que sofreu diversas alterações ao longo dos séculos e que já teve vários nomes. Já se chamou Rua das Águas, Rua da Ponte, Terreiro de São Lázaro, Alameda de São João, Largo de São Lázaro ou Rua João Franco. Em 1910, com a instauração da República, passou a ser designada por Avenida da Liberdade. Naturalmente não podem deixar de destacar que foi em Braga que iniciou o levantamento militar comandado pelo General Gomes da Costa que pôs fim à I República e instaurou uma ditadura militar. Esta efeméride ocorrida em 28 de Maio de 1926 foi o primeiro passo para a formação do regime do Estado Novo.
Em honra do feito histórico deste militar, a avenida passou a chamar-se, a partir de 1935, Avenida General Gomes da Costa. Os guias não deixam de chamar a atenção que Braga continua curiosamente a homenagear o General com uma estátua que está implantada em frente ao edifício do antigo Convento do Pópulo. Pouco tempo após a revolução dos cravos, é rebaptizada novamente com o direito da Liberdade.
A este propósito, muitas vezes os grupos de diferentes nacionalidades concordam que o mesmo aconteceu nos seus países: os nomes das ruas e as evocações monumentais alteram-se de acordo com os regimes políticos. O curioso nesta troca de impressões é perceber que muitos estrangeiros sabem mais da História de Portugal do que se poderia supor…
Há poucas semanas um grupo de turistas espanhóis, que se conheciam, fez a tour sempre atento e curioso relativamente aos monumentos e a tudo aquilo que era relatado sobre a cidade. Mostrou-se particularmente interessado na realidade actual da cidade e não deixou também de se referir à original solução governativa em Portugal. Era um grupo muito interactivo e crítico composto por pessoas possivelmente com idades a rondar os sessenta anos.
Mas nada disto faria prever que este grupo, a propósito da Revolução de 25 de Abril, começasse a cantar a “Grândola Vila Morena” enquanto se caminhava em plena Avenida da Liberdade. Conheciam José Afonso e outras figuras históricas que marcaram a História recente de Portugal. “Faltam os cravos” – diziam eles, apontando para os jardins e sorrindo.
Fica aqui um abraço para este maravilhoso grupo! Quiçá um dia teremos cravos nos canteiros da Avenida da Liberdade em pleno Abril!
Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours