Já no tempo do Império Romano que Braga se destacava pela modernidade no transporte das populações e mercadorias. De Braga saía a Via XVIII, construída no séc. I, que ligava a cidade a Astorga, um traçado bastante avançado na altura e equiparável às atuais auto-estradas. Com um percurso de cerca de 320 km, de estradas niveladas e que eram servidas por albergues ao longo do caminho, a Via XVIII era uma estrada inovadora, interligando de forma eficaz o nordeste da Península Ibérica.
Ora, não será de estranhar que quando chegaram os novos transportes citadinos, no final do séc. XIX, Braga estivesse na vanguarda das novas tecnologias. Em 1875, recebe o Caminho de Ferro e passa a estar ligada ao Porto por via da Linha do Minho. Daí em diante, com a nova tecnologia de carris de ferro, implementam-se na cidade de Braga alternativas à circulação pedonal ou a cavalo.
Numa primeira fase houve a utilização dos chamados carros americanos – ano de 1877 – que circulando sobre carris eram puxados por mulas ou bois. No entanto, este sistema revelou-se incapaz de dar resposta às necessidades da população. Principalmente, por ser muito difícil a subida ao Bom Jesus, os animais não aguentavam o esforço e eram substituídos na chegada ao sopé do monte. O aumento constante dos peregrinos que visitavam o Santuário do Bom Jesus, tornava premente encontrar uma solução mais adequada. Em 1882 Braga inaugura o Elevador do Bom Jesus que supera eficientemente o desnível e inclinação do monte (quase impossíveis de transpor pelos carros americanos).
Com o sucesso do ascensor, o tráfego em direção ao Bom Jesus aumenta significativamente. Consequentemente, os carros americanos deixam de conseguir dar resposta em tempo útil, motivando, assim, a compra de duas locomotivas a vapor para percorrer a linha 1, que ligava a estação de caminhos de ferro ao Elevador do Bom Jesus. Porém, com o passar dos anos, as locomotivas e os carros americanos revelam-se insuficientes para dar resposta ao elevado número de passageiros.
Em 1895, o Porto implementa a tração elétrica na cidade e Lisboa faz o mesmo em 1901. A Companhia de Carris de Ferro de Braga solicita em 1905, à Câmara Municipal, a autorização para instalar e operar uma linha de tração elétrica de forma a substituir a solução vigente, os carros americanos e as locomotivas a vapor, incapazes de dar resposta a uma população de cerca de 60 mil habitantes. No entanto, só em 1913, com a contratação de um engenheiro alemão, é que se dá início à conversão da linha 1 (da estação da CP até ao Bom Jesus), em tração elétrica.
É em 1914 que a instalação fica completa. Contratam-se dois engenheiros ingleses para supervisionar a colocação do sistema elétrico que vai fornecer energia aos novos veículos e a 19 de Outubro de 1914 as linhas 1 e 2 são finalmente postas ao serviço da população. Nos anos 20 as linhas 1 e 2 fundem-se numa só, dando origem a uma linha de elétrico central que se prolonga desde a estação da CP até à entrada do Elevador do Bom Jesus. Esta linha percorria toda a área central da cidade com uma extensão de cerca de seis quilómetros.
Posteriormente foi criada uma nova linha 2 que se estendia desde o Largo de Monte de Arcos ao Parque de São João da Ponte. Esta linha intercetava a linha principal na Av. Central e descia a antiga Rua das Águas, mais tarde Av. da Liberdade. A rede do elétrico de Braga percorria oito quilómetros e contava com onze veículos e treze atrelados.
Nos primeiros anos do seu funcionamento, o elétrico de Braga circulava quase vazio, pois o preço da tarifa era elevado e inacessível à maioria da população. No entanto, nos anos 30, a empresa concessionária do elétrico de Braga baixou as tarifas, e os bracarenses passaram a usar o carro elétrico como meio de transporte diário. Para além dos habitantes da cidade, o carro elétrico de Braga transportava, também, todo o serviço postal que chegava a Braga via comboio – da estação da CP até à Central dos Correios na Av. da Liberdade.
Ao longo das décadas de 50 e 60, o elétrico de Braga continuou a servir os bracarenses sem que houvesse alterações maiores nas linhas existentes. Não houve, igualmente, grande investimento durante este período e a rede de elétrico acabou por degradar-se. A circulação de automóveis na cidade aumentou e o elétrico de Braga tornou-se ultrapassado. A Câmara de Braga acabou por adquirir um sistema de troleicarros, implementado na totalidade em 1963, extinguindo a rede do elétrico. Este sistema mais moderno e confortável, provou ser uma solução mais económica e eficaz para servir a população.
Braga é das poucas cidades na Europa, que tendo albergado uma rede de carros elétricos, não mantém qualquer vestígio da sua existência. Aquando da transformação da rede do elétrico de Braga em troleicarros, todas as carruagens e atrelados foram vendidos para um ferro-velho no Porto, que posteriormente os desmantelou. Assim que se substituíram os troleicarros por autocarros convencionais, também os carris e toda a catenária foram removidos, não deixando visível qualquer memória do elétrico de Braga.
Fotografias retiradas da página de facebook: Memórias de Braga (roteiro histórico e monumental)
Um bom artigo sobre os elétricos de Braga. Acrescento contudo o seguinte, quando acabaram com os elétricos em Braga está pequena rede estava tecnologicamente ao nível do início do século, pois nunca tinha tido qualquer investimento de modernização. Não esquecer que em 1963 já existiam na Alemanha, carros articulados. Também será de referir que os troleys de substituição foram adquiridos velhos, em segunda mão a uma cidade alemã, sendo de fraca qualidade ao ponto de hoje já não existirem.
Alguém disse que os eléctricos que vi há mais de trinta anos circular na Corunha eram de Braga! Estarei certo, ou confuso?