Há catorze anos atrás, Braga, à semelhança do resto do país, fervilhava com a realização do Campeonato Europeu de Futebol. A cidade vivia em festa, decorada com um colorido muito original onde dominavam as bandeiras de Portugal penduradas nas janelas e fachadas de edifícios. Em Braga, viveu-se um ambiente de euforia que só a derrota na final do torneio da nossa selecção contra a equipa da Grécia acalmou um pouco a permanente diversão. Independentemente deste resultado viveram-se momentos de festa que perduraram na memória de todos.
Falar sobre futebol ou sobre o estado do tempo é sempre uma estratégia adequada para iniciar diálogo com turistas de quase todas as nacionalidades. O guia da Minho Free Walking Tours não esperava, contudo, que visita da tarde do dia 17 de Abril de 2016 ficasse marcada pelas recordações do Euro 2004. No Arco da Porta Nova reuniu-se um pequeno grupo formado por duas eslovacas (mãe e filha) e um estudante grego do programa Erasmus. Este estudante de Arquitectura, num tom humorista, provocou o guia relembrando a vitória da Grécia contra Portugal na final daquela competição, algo inesquecível para os gregos mas que foi “trágico” para os adeptos da selecção portuguesa…
A visita guiada para este grupo correu normalmente, à excepção das constantes perguntas do jovem grego sobre o Estádio Municipal de Braga que este apenas conhecia através da imprensa ou dos livros especializados. Como estudante de arquitectura e amante de futebol, conhecia bem a originalidade da obra do arquitecto Souto Moura e os prémios que foi arrecadando. Mas desconhecia que Braga possuía outro estádio também com assinalável valor arquitectónico, o Estádio 1º de Maio.
À semelhança do arrojado estádio que é a casa actual do Sporting Clube de Braga, também o velho Estádio 1º de Maio marcou a arquitectura civil da sua época. Foi o engenheiro Travassos Valdez quem idealizou esta obra singular. A sua edificação deveria corresponder aos pergaminhos da cidade mais antiga de Portugal e berço da revolução de 1926 que esteve na génese da implementação do regime salazarista. Para o governo da altura, Braga deveria possuir um estádio de futebol que se equiparasse ao magnífico Estádio Nacional, em Lisboa. Assim se compreende o seu peculiar projecto arquitectónico e o uso dos mesmos materiais de construção: o granito e o betão armado. São os dois únicos estádios portugueses construídos com base em pedra.
A sua planta é simétrica e as bancadas graníticas envolvem o campo central numa forma oval. A entrada principal é composta de forma geométrica. No centro ergue-se uma torre paralelepipédica alta e esbelta, com o escudo da República e o nome actual do estádio. Nas partes laterais da entrada tem dois painéis de bronze em alto-relevo, representando desportistas vigorosos com postura olímpica inspirados na antiguidade grega. Nos painéis destacam-se a tocha olímpica e uma das inscrições é atribuída a Camões, o maior poeta português: “Oh gente forte e de altos pensamentos”- pode ler-se. O monumento está perfeitamente enquadrado no meio envolvente devido à proximidade com o idílico parque verde da cidade, o Parque da Ponte.
O estádio foi inaugurado em 1950 e foi baptizado com a data da revolução que deu origem ao regime: 28 de Maio. Depois da Revolução que instaurou em Portugal a Democracia em 25 de Abril de 1974, o edifício foi rebaptizado com a data de 1º de Maio, o dia Internacional do Trabalhador.
Depois desta pequena lição de história, o guia surpreendeu o estudante com uma interessante particularidade: junto ao pilar principal do Estádio 1º de Maio encontra-se uma pedra de tons alvos, talvez de mármore, que provém das ruínas da antiga civilização grega. Esta pedra foi transportada para Braga para preservar, na base do estádio, o espírito olímpico patente também nos anéis que encimam o portão principal de acesso ao recinto. O estudante grego ficou orgulhoso e com vontade de visitar o monumento.
Mas se se tornou fácil para o guia indicar onde é que o Estádio 1º de Maio se situava, não foi tão fácil apontar onde se construíra o moderno Estádio Municipal de Braga já que este se localiza fora da cidade. O guia resolveu então prolongar o tour e continuar a caminhar até Dume, ainda em companhia das interessadas turistas eslovacas, proporcionando-lhes uma visita inesquecível ao estádio que se tornou no ícone arquitectónico do Euro 2004.
Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours