As visitas guiadas da Minho Free Walking Tours, abordam as mais importantes tradições culturais e religiosas que preenchem o imaginário popular e religioso bracarense. Neste âmbito, a referência ao Arcebispo São Geraldo e ao “Milagre da Fruta” é um tema incontornável no momento em que os guias descrevem a fachada da Sé Catedral (onde se encontra representado São Geraldo) e conduzem os turistas pelo Claustro de Santo Amaro.
Resumidamente, os guias descrevem a história de vida do Bispo que é o santo padroeiro da cidade de Braga. Fazem questão de salientar que, embora as maiores festividades e tradições populares, em Braga, estejam associadas ao São João, a verdade é que São Geraldo é que é o seu padroeiro. Este Bispo de origem francesa é comemorado no dia 5 de Dezembro, dia em que terá falecido no ano de 1108.
Geraldo nasceu em França, na cidade de Cahors. Foi monge beneditino no Mosteiro de Moissac e chantre da Catedral de Toledo. Em 1099 foi eleito Bispo de Braga. Executou, nesta diocese, um conjunto de reformas a nível moral, eclesiástico e administrativo. São atribuídos a São Geraldo vários milagres ocorridos na região de Braga e que são citados numa biografia escrita poucos anos após a sua morte.
Entre os vários milagres, os guias narram o mais popular: o denominado “Milagre da Fruta”. De acordo com a lenda, Dom Geraldo terá adoecido gravemente durante uma visita que estava a realizar, durante o Inverno, ao território diocesano nas terras do Barroso. Os seus acompanhantes ficaram preocupados com a sua febre alta e não sabiam o que fazer. No seu leito de agonia, Dom Geraldo pediu com insistência que lhe trouxessem sumo de frutos das árvores do quintal que lhe matassem a sede. Incrédulos com tal pedido, os seus servos foram ao quintal procurar nas árvores os desejados frutos e nada encontraram. Descrentes voltaram para junto do Bispo. Dom Geraldo persistia voltando a renovar o seu pedido. Mas na paisagem gélida nada existia para além do manto de neve que cobria o chão e isso provocou o desânimo dos seus servos.
Pela terceira vez, o Bispo pede aos criados que voltem de novo ao quintal e lhe tragam os frutos desejados. Estes, já sem esperança, regressam ao quintal e, para seu espanto, vêem que as árvores estão carregadas de frutos. O milagre tinha acontecido! Plenos de felicidade, levam a fruta à presença do seu Senhor. Este, erguendo os olhos ao céu, agradece a Deus tamanho milagre.
Esta lenda é anualmente recriada por crianças na Sé de Braga no dia em que é assinalada a sua morte. E a capela, onde está colocado o túmulo de São Geraldo, é pomposamente ornamentada com fruta fresca. Esta é uma das tradições mais originais da cidade de Braga.
A primitiva capela, da qual apenas resta a estrutura das paredes, foi mandada erguer por este Arcebispo com invocação a São Nicolau de Mira por quem Dom Geraldo tinha especial devoção. No século XV, o Arcebispo Dom Fernando da Guerra, após Dom Geraldo ter sido canonizado, dedicou -lhe a Capela e os seus restos mortais foram sepultados no retábulo principal. A capela foi alvo, ao longo dos séculos, de diversos restauros. É decorada em talha barroca e os azulejos das paredes laterais narram cenas de vida do santo padroeiro.
Quando os guias narram estas lendas e tradições bracarenses associadas a São Geraldo, há turistas que encontram paralelismos com costumes dos seus países de origem. Os mais curiosos são referidos pelos holandeses. A veneração do Arcebispo padroeiro de Braga a São Nicolau, a data da morte e celebração de São Geraldo no dia 5 de Dezembro, e a encenação do milagre da fruta por crianças, são elementos suficientes para que os turistas holandeses partilhem um pouco de uma festa com fortes tradições no seu pais, o chamado Sinterklaas ou São Nicolau.
De acordo com os turistas, na Holanda, ao contrário de outros países nórdicos, também o São Nicolau de Mira é comemorado no dia 5 de Dezembro. Nos Países Baixos é o favorito das crianças porque lhes oferece presentes como recompensa do seu bom comportamento. Na tradição holandesa, ele e seu ajudante, o mouro Zwarte Piet, habitam na Espanha, de onde avaliam o que as crianças holandesas fazem durante o ano. Em meados de Novembro, a chegada deles de navio à Holanda com laranjas, é transmitida ao vivo pela televisão. Depois, eles prosseguem viagem por todo o país distribuindo presentes pelas crianças em diversas cidades.
Esta partilha de tradições e intercâmbio cultural são momentos de grande interesse para todo o grupo, principalmente quando ele é heterogéneo e composto por pessoas de culturas diferentes. O guia deixa de ser o emissor principal e torna-se mero participante na partilha de conhecimentos. Quando as visitas ganham este teor de reciprocidade, transformam-se em momentos gratificantes de mútuo enriquecimento cultural!
Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours