Cinco séculos de presença romana valem a Braga o epíteto de “Roma Portuguesa”. Os testemunhos da antiga Bracara Augusta encontram-se em vários locais, alguns de carácter público como as Termas do Alto da Cividade ou no Museu D. Diogo de Sousa, outros privados em estabelecimentos comerciais que surpreendem os turistas errantes.
O legado romano influenciou também o imaginário e a produção artística local ao longo dos séculos. Uma das estátuas mais enigmáticas que podemos observar no centro histórico é a imagem alegórica personificando a cidade de Braga. A mais conhecida encontra-se no cimo do Arco da Porta Nova fitando o Pôr-do-sol e esteve na origem da seguinte expressão popular: “Braga está em cima do Arco da Porta Nova!”
Na verdade, esta escultura barroca em granito simbolizando a cidade trata-se de uma reprodução transformada da deusa romana, Minerva. Na mitologia romana, Minerva era a deusa da sabedoria, do conhecimento, da guerra, das artes… Era considerada a deusa protectora de Roma, o equivalente à deusa grega Atena para a capital da Grécia. Fisicamente era representada nas estátuas com uma beleza simples, com expressões de força, nobreza e majestade. Geralmente portava uma armadura com escudo e, nas mãos, uma lança e uma coruja. Todos estes elementos militares são símbolos de força e de poder. A coruja é símbolo de constante vigilância e capacidade de ver no escuro.
Quando se promoveram as demolições junto à Sé de Braga em 1946 e se abriu o Rossio, as fundações nos terrenos permitiram a descoberta de vários objectos de origem romana, entre os quais uma pequena estatueta de bronze da deusa Minerva. Também foram encontradas algumas estatuetas da mesma divindade nas Termas do Alto da Cividade que hoje estão conservadas no Museu D. Diogo de Sousa.
A imagem da deusa Minerva inspirou a figura alegórica de Braga mas há um elemento fundamental que as distingue e que a torna uma singular guardiã de Braga. Ao contrário da coruja, a estátua da “Minerva bracarense” suporta, na mão esquerda, uma representação da Catedral de Braga. Neste caso, a Catedral simboliza a influência que a Igreja Católica teve ao longo dos séculos nos destinos da cidade. Além disso, no escudete onde a estátua de Braga se apoia, pode ver-se a sigla B.A.F.A que podemos interpretar em latim: “Bracara Augusta Fidelis et Antiqua” (Braga Augusta Fiel e Antiga), que foi o lema oficial da cidade.
Esta é uma das primeiras curiosidades que damos a conhecer aos turistas quando iniciam o percurso das Minho Free Walking Tours junto ao Arco da Porta Nova. Também se afirma que o sítio original desta estátua não era este, mas antes encimava os alpendres da Porta do Souto (actual Arcada), local onde curiosamente também termina a visita guiada. Foi transportada para o arco com o intuito de conferir a este maior magnificência em 1771, ano em que foi construído. Para além disso, este era o monumento mais apropriado onde poderia exibir-se uma guardiã da cidade.
Durante a visita é dito aos turistas que se encontrará a mesma imagem noutros locais, mas concebida com diferentes materiais. Assim, depois da interpretação da estátua de granito no Arco da Porta Nova, encontramos a mesma imagem, agora moldada em bronze, no Rossio da Sé, integrada no recente Monumento Evocativo aos Arcebispos. Este é o primeiro momento onde os turistas aproveitam para posar junto à tão insigne imagem. Depois, voltamos a encontrá-la no interior do edifício sede da Câmara Municipal, na Praça do Município. Primeiramente projectada em lugar de destaque no painel de azulejos que adorna a escadaria de acesso ao piso superior. Depois, na escultura em argila policromada no interior do salão nobre de sessões da Câmara. Aqui aproveita-se para se tirar as selfies mais criativas e desafia-se os turistas a procurarem outras imagens idênticas na cidade…
Este artigo foi escrito pela Minho Free Walking Tours