“A viagem de Cabo Verde das tripas coração inaugura-se pela aridez do ondulado vulcânico, atravessado por depauperadas habitações e o mais que a elas se acolhe, para nos conduzir aos restos mortais do Tarrafal, memória de flagelos vetustos.
O impulso da vida reclama, porém, audácia e criatividade. Policromias arrojadas estampam-se nas paredes e as músicas vão impondo ritmo aos corpos, enquanto a coragem da denúncia se assume: na ilha do Fogo, a gestão do socorro governamental, aquando o vulcão de 2014, ainda provoca críticas… Fernando Almeida e João Campos não se esquivaram de Cesária Évora – imperdoável era negarem-nos a prodigiosa entrevista com Manu Lima. Estejamos atentos! De caminho, Luís Batista – herdeiro do fabrico e do manuseio de cavaquinhos – é fiador da paternidade bracarense do instrumento. E da pátria atual, a música e a pintura unem-se para preservar memória de Amílcar Cabral e do partido que fundou. Ao despedir-se, a viagem honra a sua legenda, oportuna e certeira.”
Mário Robalo
De: Fernando Almeida e João Campos