Pode dizer-se que o cinema começa pela projeção de imagens fotográficas 24 vezes por segundo, capazes de gerar na vista humana a ilusão de movimento. Do projetor à tela, a imagem desaparece e volta a aparecer. Esta ilusão das ilusões existe também numa das matérias de que o cinema é feito: as histórias. O Cinema no Pátio de 2021 propõe quatro filmes sobre fotografia e cinema, entre revelações e desaparições, abrindo e fechando com clássicos: uma máquina fotográfica que faz desaparecer as pessoas más (A Máquina de Matar Pessoas Más, Roberto Rossellini, 1952), o fantasma de um realizador de cinema que reaparece (Até Nunca, Benoît Jacquot, 2016), uma narradora que descreve imagens a um fotógrafo a perder a visão (Esplendor, Naomi Kawase, 2017), e por fim (depois de um ano feito de muito tempo entre paredes), a deriva de vespa pela cidade deserta no Verão e a liberdade no mar (Querido Diário, Nanni Moretti, 1993).
por eduardo brito
Esplendor
Naomi Kawase · Japão · 2017 · Romance, Drama · 101’ · m/16
Com Masatoshi Nagase, Ayame Misaki, Tatsuya Fuji
Misako é uma apaixonante escritora de versões de filmes para os incapacitados visuais.
Numa projeção, ela conhece Nakamori, um fotógrafo mais velho que está lentamente a perder a visão. Misako descobre as fotografias de Nakamori, que estranhamente a fazem regressar ao passado. Juntos, vão aprender a ver um mundo esplendoroso que era invisível aos seus olhos.