“O Marinheiro” é a representação de um teatro sem ação, cuja energia está toda concentrada no que é dito por três veladoras num quarto circular. Nele há uma donzela morta. As três sonham um marinheiro e quase no final da “narrativa” contam de uma quinta pessoa que as “interrompe” sempre que vão “a sentir”. Será “O Marinheiro” uma armadilha montada por Fernando Pessoa, que prende três mulheres num castelo (uma ilha?) e nunca as chega a libertar, não as deixando “sentir”? Queira-se ou não, “O Marinheiro” é um beco sem saída. Escrito em setembro de 1913, completando há dias 110 anos, que sentido fará hoje descolonizar um texto tão estático? Será que Fernando Pessoa pensava na condição da mulher (portuguesa) ao escrevê-lo?