O meu trabalho no Egito começou antes de eu sequer entender a sua complexidade. Aconteceu em meados de 2005, alguns meses depois da inesperada morte da minha avó materna. A morte dela causou o caos na existência estruturada da minha família. A morte é a desordem suprema. Deixa enormes buracos que os outros têm que compensar. Pude testemunhar a destruição dos pilares de ‘família‘ e ’casa‘, tal como os conhecia. Voltei-me para as ruas do Cairo para escapar à escuridão da morte. Queria conectar-me a um povo do qual faço parte, mas entre o qual me sentia uma estranha. Este foi o resultado de ter sido uma criança do leste que se tornou um adulto influenciado pelo oeste, após quase 10 anos a estudar e trabalhar nos EUA. Foi um momento frágil da minha vida, fragilidade essa que ficou em mim. Uma afortunada narrativa paralela, que juntou a minha própria busca por identidade e a história em torno do que se tornou a luta por identidade de um país inteiro. Descobri que o Egito é um lugar de grandes contradições. A vida perdura sob a forma de multidões e sons que nunca cessam. Estão lá, no meio de uma tensão palpável, um peso pesado que as pessoas carregam nos ombros. Descobri que este é um lugar onde as injustiças abundam – corrupção, humilhação. Injustiças que transformaram certos em errado e errados em certo. Um lugar onde todos os dias as pessoas lutam pela sua dignidade. No caos ao meu redor encontrei reflexos de mim mesma. Ali fotografava não só a mim mesma mas também o meu país. Na Sombra das Pirâmides há um relato em primeira pessoa da exploração da memória e da identidade. As imagens foram criadas entre 2005 e 2014. O que começou com um olhar no espelho para perceber a essência da identidade egípcia expandiu-se numa exploração das provações e tribulações de uma nação conturbada. O resultado é sombrio, sentimental e apaixonado. Sobreponho a inocência do meu passado com a obscuridade do presente.