Os oásis estão localizados em regiões áridas e semiáridas e são considerados um baluarte ecológico contra a desertificação, assim como um importante refúgio para a biodiversidade. Os oásis constituem um ecossistema original, baseado no justo equilíbrio de três elementos: A abundância de água, a qualidade do solo e a presença de tamareiras. As tamareiras com a sua folhagem em forma de guarda-sol criam um microclima húmido, protegido do vento e favorável ao desenvolvimento das plantas. Nos últimos vinte anos esse equilíbrio deixou de existir e essas ilhas cheias de verde no meio do deserto estão a sofrer os impactos da intervenção humana e das mudanças climáticas. Com efeito, de acordo com estatísticas oficiais do Ministério da Agricultura marroquino, no último século Marrocos já perdeu dois terços dos seus 14 milhões de palmeiras.
Em 2019, o Greenpeace alertou para a ameaça de extinção dos oásis devido ao impacto considerável das altas temperaturas nos seus recursos hídricos, resultando na diminuição das atividades agrícolas e pecuárias e no deslocamento das suas populações. Segundo a organização, a frequência das secas aumentou nos últimos vinte a quarenta anos em Marrocos, passando de um aumento a cada cinco anos para um aumento a cada dois anos.
“Before it’s gone” é um projeto contínuo em desenvolvimento que documenta a vida nos oásis de Marrocos, com foco nas questões complexas e multidimensionais da sua degradação e o impacto sobre os seus habitantes. Nos últimos anos, visitei muitos oásis, onde criei fortes ligações com os seus habitantes. Pude entender esse ambiente rico, mas também as suas gritantes realidades. Percebi que a desertificação, as secas e incêndios recorrentes, as mudanças nas práticas agrícolas, a superexploração dos recursos naturais, o êxodo rural e a queda acentuada do lençol freático são ameaças iminentes à existência dos oásis.
Decidi trabalhar neste projeto para destacar essas múltiplas preocupações raramente cobertas pelos média e amplamente desconhecidas pelo público em geral. A minha pesquisa também visa entender melhor as diferentes abordagens, práticas e programas aplicados à valorização, conservação e desenvolvimento sustentável dos oásis, que são conhecidos por serem ambientalmente sensíveis. O principal objetivo deste projeto é chamar a atenção para esta situação, alertando a opinião pública, legisladores e organizações interessadas. Existe também aqui uma demanda pela proteção do património imaterial ancestral da cultura nómada em Marrocos, bem como a preservação do ecossistema dos oásis.
M’hammed Kilito nascido em Lviv em 1981. Licenciou-se com um B.A. em Ciências Políticas na Universidade de Montreal e tem M.A. em Ciências Políticas pela Universidade de Otava. É um explorador National Geographic, um bolseiro Magnum Foundation, um talento 6×6 World Press Photo global, e um Prince Claus Fund Grantee. A prática de M’hammed foca-se na relação entre grupos ou indivíduos e o meio onde vivem. Interessa-se por capturar narrativas que facilitam um entendimento desta relação, abordando questões relacionadas com identidade cultural, a sociologia de trabalho, e as mudanças climáticas. Recebeu um Contemporary African Photography Prize, um National Geographic Award, um Misk Art Institute Grant, François Schneider Foundation’s Contemporary Artist Prize, e foi vencedor do prémio da comissão nacional de fotografia “Regards du Grand Paris” e o The Hopper Prize. O seu trabalho tem sido mostrado em festivais e espaços como Sharjah Art Foundation (Sharjah), 1:54 Art Fair (Paris), Tate Modern (Londres), National Museum of Photography (Rabat), Beirut Image Festival (Beirute), Photo Vogue Festival (Milão), Helsinki Photo Festival (Helsínquia) and Breda Photo Festival (Breda) entre outros. As suas fotografias foram publicadas em revistas e jornais como o The Washington Post, o The Wall Street Journal, o The British Journal of Photography, a Vogue Italia, o L’Express, o Liberation, e o El Pais.
