Para o projeto Desvio Padrão, interessou-me examinar a postura frequentemente colonial da ciência sobre a natureza, bem como as complexidades inerentes à investigação científica em Cabo Verde numa era de capitalismo global e neocolonialismo.Abordei este projecto pensando na ciência a partir da sua dimensão positivista e questionando os dispositivos técnicos e filosóficos associados ao método científico. Interessou-me olhar para a ciência e para a investigação científica enquanto o lugar onde o mundo natural e físico é exaustivamente e obsessivamente observado, medido, classificado e ordenado em nome da vigilância e da modelação de dados climáticos. Ao longo deste projecto, desenvolvi uma forte colaboração com cientistas locais e internacionais a trabalhar em Cabo Verde e procurei compreender um pouco das problemáticas e contradições associadas à investigação científica relacionada com as alterações climáticas. Durante este processo, compreendi que o erro desempenha um papel fundamental na construção do caminho para a constituição de conhecimento e concentrei a minha abordagem nos aspectos mais humanizantes e íntimos da ciência, onde a incerteza, a improvisação ou a “rejeição da impossibilidade” são mais visíveis.
Diogo Bento (n. 1984). Vive e trabalha entre Lisboa, Portugal e São Vicente, Cabo Verde.Estudou fotografia no Ar.Co, em Lisboa, licenciou-se em Arquitectura Paisagista e concluiu estudos pós-graduados em Fotografia, Projecto e Arte Contemporânea.Enquanto fotógrafo, o seu processo de investigação artística é informado por um entendimento da paisagem enquanto entidade cultural: um corpo que é determinado por uma matriz natural e que se encontra em constante confronto com as suas idiossincrasias físicas e simbólicas. A sua prática artística tira partido das possibilidades visuais e narrativas da fotografia e da instalação para dar forma a este questionamento sobre o papel da paisagem. É na aproximação aos temas da ecologia, natureza, arquitectura, urbanismo ou ciência que encontra lugar para uma reflexão em torno de questões relacionadas com decolonialidade e justiça social. Tem actuado enquanto fotógrafo, artista, curador e educador em diversos projectos artísticos e culturais. É membro fundador da Associação AOJE (organização dedicada à fotografia) e um dos impulsionadores da residência artística Catchupa Factory – Novos Fotógrafos. É assistente convidado de Fotografia na Universidade Lusófona, em Lisboa.