Qual é a diferença entre um tubo de ensaio e uma paisagem pós- apocalíptica? Entre um aquário e o oceano primitivo? O tempo e a presença de pessoas. A ideia de alguém a observar, a controlar.
Numa destas alternativas, aquela presença não existe. O que existe sempre é o desenvolvimento, natural ou não, de um microcosmos autónomo, de um ecossistema afastado do perigo humano. Antes ou depois da catástrofe (pode não importar), mas próximo daquilo a que chamamos ambiente natural, também conhecido como Natureza. Um conceito com que sempre tivemos dificuldade em nos identificarmos sem cair na dicotomia entre pura inocência pré-adâmica versus utilitarismo capitalista.
O universo visual de Paulo Arraiano (Portugal, 1977) reside numa dualidade que funde o natural e o artificial, natureza e urbanidade, emergência e criação. Na intersecção entre estes dois mundos aparentemente opostos e exclusivos, conseguiu estabelecer um novo equilíbrio que emerge da energia primitiva que flui entre um e o outro e se encontra na raiz da sua dialéctica visual. Procurar a sociedade mesmo antes da referência “homem”. Um território, um corpo, a deriva por fluxos de energia. O trabalho plástico de Paulo Arraiano tem vindo a debruçar-se sobre o território imaterial e a sua ligação com o território físico: car- tografias emocionais onde o corpo age como uma extensão da natureza, através de um registo assente no movimento e na fluidez da ligação à raiz, procurando trazer para a cidade a energia que esta tende a esquecer. No trabalho do artista plástico, o desapego pela obra original enceta a deambulação emocional num novo corpo/ espaço dialogante, um cruzamento entre a cartografia urbana e os meridianos do corpo humano num alinhar de premissas para uma obra de “acupuntura urbana”. Procurando pontos de conflito, bloqueios, fluxos emocionais e energéticos a serem retribuídos ao espaço geográfico.