INSULA PERDITA – DESENHOS
Paulo Luís Almeida
Insula Perdita é uma exposição de desenhos que representam ilhas, palmeiras em fim de vida e notas para acções. A exposição foi construída em torno de duas histórias: uma começa com a renúncia da ilha de Melville em 2003 pela Austrália, os acontecimentos recentes na ilha de Utoya na Noruega e na ilha de Lindholm na Dinamarca; a outra acompanha o fim anunciado das palmeiras na cidade do Porto. Há um tempo presente em que as duas histórias coincidem, mas há sobretudo a percepção de um desaparecimento que se revela quando as histórias se tocam . Na renúncia às ilhas — lugares isolados por natureza —cumpre-se a condição que a palavra ‘ilha’ encerra — as ilhas foram deixando de ser os lugares de desejo que buscávamos para se tornarem nos espaços que a imaginação renega e isola. Há muito que os principais lugares imaginários deixaram de ser ilhas. Também as palmeiras foram os emblemas onde projetámos o paraíso prometido. São hoje o lugar das contradições que a sua vulnerabilidade e o fim do seu ciclo de vida faz surgir.
Em ambas as histórias desenha-se num tempo presente, para testemunhar que estas imagens foram realmente vistas e interrogadas. Porque o olhar de quem desenha nunca é neutro, o desenho é um exercício de análise que revela padrões e procura os pontos comuns que aproximam as imagens, revelando o que nelas é periférico e entrevisto. Mas o desenho é também o meio em que estas histórias podem ser compreendidas como reencenação, deslocadas no tempo e enxertadas num espaço virtual de realização, onde a certeza do real é novamente posta em causa.
BIO
Paulo Luís Almeida nasceu em Moçambique. Formou-se em Artes Plásticas – Pintura, FBAUP e doutorou-se pela Universidad del País Vasco. É Professor na FBAUP e investigador no Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade.
Há alguns anos começou a realizar pequenas intervenções anónimas, que se confundiam com gestos quotidianos. Estas intervenções não saiam do espaço doméstico da casa e da rua onde vivia, nunca eram anunciadas e raramente documentadas. Percebeu depois que também podia fazer desenhos e pinturas para evitar a exposição pública das intervenções e contornar a impossibilidade da sua realização; que desenhar podia ser uma forma estimulante de as pensar, realizar e documentar.
Esta relação entre contextos performativos e objetos pictóricos passou a contaminar o seu trabalho, um ensaio contínuo em torno de micronarrativas do quotidiano (a grande parte sem outra pretensão que não a de inventar fábulas para a vida de todos os dias). O trabalho, que se desdobra em desenho, pintura e performance, resulta de noções muito simples: a noção narrativa de prova; o deslocamento de gestos quotidianos; a transferência de ações entre contextos performativos e sociais.