É conhecida a paixão de Ricardo Toscano pela música de John Coltrane, traduzida pela inserção de temas do mestre em concertos do quarteto liderado pelo jovem – mas já consagrado – saxofonista português. Em entrevista, Toscano chegou mesmo a referir que, ao vivo, opta muitas vezes por começar logo pela música de Coltrane, de modo a obrigar-se, à partida, a assumir a sua humildade não só face a essa lendária figura da história do jazz como à própria música que toca, seja esta tirada do cancioneiro norte-americano, das grandes personalidades do género ou de sua própria escrita. Só moldando o ego é, no seu entender, possível uma verdadeira entrega às tramas musicais.
Desta vez, Toscano decidiu dedicar todo um programa a John Coltrane, escolhendo uma das suas edições mais marcantes, o álbum A Love Supreme. Gravada a 9 de Dezembro de 1964 no Van Gelder Studio, em New Jersey, para a Impulse!, com os préstimos de McCoy Tyner, Jimmy Garrison e Elvin Jones, esta suite em quatro partes resultou tanto no melhor disco que Coltrane deixou para a posteridade como num dos mais importantes alguma vez lançados desde que a fonografia foi inventada – algo que pacificamente se conclui do que sobre o dito afirmou a generalidade da crítica e da receção que vem tendo desde então pelos seus fãs, ainda hoje continuando a ser um “bestseller”.
Não é por arrogância ou presunção que Ricardo Toscano (saxofone alto), João Pedro Coelho (piano), Romeu Tristão (contrabaixo) e João Lopes Pereira (bateria) se atrevem a pegar em tamanha obra-prima, mas por devoção e em homenagem a um músico que jamais será esquecido. Fazem-no com brilho, mas também com a consciência de que nunca poderão igualar a genialidade do original, e por isso – mas também por crerem que, no jazz, a recriação vale mais do que a mera reprodução – nem se atrevem a copiar o que nesse registo ouviram.