Arredondando um pouco as contas, a história deste século não pode ser escrita sem o seu nome. Nas duas últimas décadas, Jan Jelinek deu-nos matéria essencial para conjugarmos na perfeição grande parte dos verbos da música eletrónica, em nome próprio e desmultiplicando-se através de nomeações alternativas, autores imaginários ou bandas inexistentes. Ou seja, um punhado de identidades e personas que foram abrindo o seu discurso musical, mostrando ao mundo, e sem freio, uma convulsão criativa singularíssima. Do micro-house ao jazz, do groove ao ambientalismo, da música concreta à pesquisa sonora, da teoria à prática, Jelinek tem gerado uma discografia tentacular e ímpar que legitima todos os adjetivos que queiramos ceder-lhe. Com um sentido de escuta apurado, o músico alemão tem sabido ouvir e captar os vários universos que o rodeia, incorporando-os em representações da realidade que desafiam constantemente as nossas próprias convicções. Não é de estranhar que para este concerto tenha proposto um aparato quadrifónico, dizendo-nos deste modo que nos quer bem dentro da sua música. Afinal, fazemos todos parte dela, como tantas vezes o comprovou.